quarta-feira, 6 de abril de 2011

Manaus - Os investimentos em pesquisas na área de mudanças climáticas globais, nos últimos anos, mostram o quanto o Brasil está comprometido com o desenvolvimento sustentável do planeta. Mas a ciência brasileira ainda precisa avançar mais em políticas públicas para adaptação da sociedade a esse processo. Quem afirma é o climatologista Carlos Nobre, secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento (SEPED) do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT).
Representando o ministro Aloyzio Mercadante, Nobre participou da abertura da IV Conferência Regional de Mudanças Globais (4CRMG), hoje, pela manhã, no Memorial da América Latina, em São Paulo. Um dos grandes desafios na adaptação das mudanças globais, segundo Nobre, é criar um sistema eficiente de monitoramento e alerta de catástrofes, para diminuir o número de vítimas em casos de eventos extremos, como o ocorrido na Região Serrana do Rio de Janeiro, este ano.
“O Governo Federal e os governos estaduais já definiriam a criação de um sistema nacional de monitoramento de alerta de desastres naturais, que deve começar a operar até o final do ano. É uma medida concreta, a primeira medida de adaptação ao eventos climáticos extremos”, disse Nobre. Segundo ele, esse sistema é fundamental para atingir o Brasil atingir autonomia na questão da adaptação. “Temos que diminuir o número de vitimas nas catástrofes por meio da ciência”, acrescentou.
Nobre também destacou que o Brasil assumiu um papel de protagonismo internacional na formulação de políticas para a redução de emissões de gases do efeito estufa (GEE). “O Brasil é o único país em desenvolvimento a apresentar metas claras – entre 36% e 39% – até 2020”, afirmou. Para o climatologista, apesar de as pesquisas em mudanças globais constituírem uma área relativamente nova no Brasil, “os conhecimentos gerados têm sido guiados pela melhor ciência”.
Credibilidade
Mudanças climáticas globais é um tema de grande relevância para a sociedade brasileira, de acordo com Nobre. Segundo ele, pesquisa realizada no segundo semestre de 2010 apontou que 96% dos brasileiros reconhecem a importância de se debater a questão, e 90% acreditam que esse processo esteja ocorrendo por causa da ação antrópica. “Significa que, no Brasil, a credibilidade científica não foi abalada por causa de episódios isolados, como aconteceu nos EUA e no Canadá”.
Nobre se refere ao episódio que ficou conhecido como “Climagate” – e-mails “pirateados” em universidade britânica, que levantou onda de suspeitas no encontro da ONU em Copenhague, em dezembro de 2009 – e a “alguns minúsculos equívocos” do último relatório do IPCC, nas referências à taxa de recessão das geleiras do Himalaia.
“Houve uma certa perda de apoio popular, principalmente nos EUA e Canadá, mas esse apoio não diminuiu no Brasil”. Nobre advertiu que, na “ciência, diferentemente do que ocorre na religião, não há verdade absoluta, mas verdades momentâneas”. E salientou que quase a totalidade dos cientistas atribui às ações humanas, principalmente à emissão de gases de efeito estufa, as mudanças do clima nos últimos anos. “É a melhor e  mais robusta explicação, e a sociedade brasileira reconhece isso”, acrescentou.
Plano de Mudanças Climáticas
Outras ações, como a redução de desmatamento e da agricultura, que, segundo Nobre poderia ser, no futuro, um “sumidouro de carbono”, também já estão sendo efetivamente implementadas. “Segurança alimentar é outra ação fundamental nessa linha de metas, assim como biodiversidade e sustentabilidade”, disse, referindo ao Plano Brasileiro de Mudanças Climáticas, cujos eixos norteiam as discussões da 4CRMG.
A ampliação da matriz energética brasileira é outro desafio para o Brasil, destacou Nobre. “É preciso pensar em energias renováveis, como eólica e solar, e com isso consolidar o enorme potencial do país de transformar biodiversidade em desenvolvimento sustentável”. Para Nobre, todas as metas só serão atingidas “com a valorização da ciência, com tudo o que a ciência traz de relevante para melhorar a qualidade de vida das pessoas em consonância com o desenvolvimento sustentável”, finalizou.
A 4CRMG teve início na manhã de hoje e termina na quinta-feira, dia 7. É um evento organizado pelo Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA-USP), em parceria com a Academia Brasileira de Ciência (ABC), o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas (INCT), o Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC) e a Rede Clima. A programação completa está disponível no site http://www.mudancasglobais.com.br/

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