12310 Dispostas a superar a mudança climáticaWindhoek, Namíbia, 24/8/2011 – Um programa bem-sucedido que promove práticas agrícolas com enfoque ambiental e perspectiva de gênero no norte da Namíbia pode servir de modelo para outros países do continente africano. “As camponesas da África carregam a responsabilidade de manterem suas famílias. Trabalham a terra, cozinham e, ainda, têm de arrumar uma maneira de conseguir dinheiro”, disse Marie Johansson, diretora da Creative Entrepreneur Solutions (CES – Soluções Criativas para Empresas), na localidade de Ondangwa, norte da Namíbia.
“Quem vê uma mulher sentada em um posto de gasolina vendendo pão acha que esta é uma boa forma de ganhar dinheiro”, observou Johansson. “Mas, ela se levanta às três da manhã para preparar a farinha, o desjejum, fazer o pão, trabalhar na terra por duas horas e depois caminhar dez quilômetros até o posto, onde fica todo o dia para vender seu produto e obter o equivalente a US$ 0,75. Depois volta para casa para cozinhar, limpar e se preparar para recomeçar”, acrescentou Johansson.
Para essas mulheres, que já têm uma vida difícil, inundações, secas e as altas temperaturas são um verdadeiro problema que prejudica sua colheita e capacidade de abastecer o lar. “Os homens não costumam ter essa dinâmica de trabalhar e dormir, então não prestam tanta atenção quando se discute sobre a terra cultivável em painéis de adaptação à mudança climática. Por outro lado, as mulheres dizem que primeiro é necessário garantir a produção de alimentos básicos para a família”, explicou Johansson.
“Elas tendem a se interessar por temas de conservação e irrigação por gotejamento por ser vital conseguir maior produtividade. Costumam perguntar sobre como planejar a plantação com inundações ou como diversificar os cultivos”, destacou a diretora da CES. Esta organização Johansson fundou em 2007 junto com outras mulheres. Ela também ajudou as mulheres a fortalecerem pequenos negócios informais ou a iniciar um.
“Nosso enfoque é de baixo para cima porque, se os doadores fecharem os bolsos amanhã, a proposta continuará funcionando. A maioria dos programas governamentais ou financiados por doadores fracassam porque não perguntam às pessoas o que querem e isso as leva a adquirirem o senso de propriedade”, explicou Johansson.
A CES organizou grupos de ajuda mútua tomando o exemplo de iniciativas realizadas na Índia. As comunidades se organizaram em cooperativas para enfrentar as consequências da mudança climática ou conseguir economias para iniciar um negócio. “Nosso foco é duplo. Queremos melhorar a segurança alimentar, mas se também há a possibilidade de criar uma empresa, por que não? Nos interessa ajudar colocar ideias sem prática”, disse Johansson.
As mulheres se interessam pelo cultivo de conservação e em melhorar os métodos de irrigação para espécies que requerem solos secos e, nesse processo, começam a plantar de outra maneira. Além disso, “cultivam plantas diferentes que se adaptam melhor às distintas condições climáticas ou têm mais possibilidades de mercado e optam pela aquicultura. A mudança climática também oferece oportunidades”, afirmou.
“Os países podem adaptar projetos e adequá-los às suas condições particulares”, respondeu Martha Mwandingi, diretora de meio ambiente e energia do Pnud, ao ser consultada sobre a possibilidade de esses programas serem aplicados a outros países da África subsaariana. “Há outras ideias que servem do jeito que estão, como o conjunto de ferramentas com informação sobre mudança climática que criamos”, disse Mwandingi, encarregada de programas de adaptação à mudança climática, gestão de ecossistemas e biodiversidade, que inclui a proposta da CES.
“A mudança climática prejudicará mais as mulheres devido aos múltiplos papéis que desempenham em suas famílias, de agricultoras a provedoras e administradoras dos recursos nacionais do país”, acrescentou Mwandingi. Segundo ela, “a mudança climática exacerba a carga das mulheres porque se perpetuam papéis de gênero discriminatórios. O fenômeno ataca muita gente no mundo, mas especialmente as mais vulneráveis, grupo no qual se encontra a população feminina”, ressaltou.
Mwandingi acredita que é preciso investigar mais sobre a participação das mulheres nos processos de decisão para saber, por exemplo, quantas integram a Comissão Nacional sobre Mudança Climática. “Em matéria de decisões, na Namíbia há duas mulheres em cargos importantes, as ministras do Meio Ambiente e das Finanças, bem como muitas diretoras de agências governamentais ou institutos de pesquisa”, destacou.
“Contudo, a situação deve ser olhada mais de perto, por exemplo, qual a participação das mulheres nos diferentes centros científicos dedicados à mudança climática na África meridional? E como elas incidem em decisões sobre o tipo de dados que coletam e os modelos que se cria?”, acrescentou.
A Aliança Global de Gênero e Mudança Climática, criada na Conferência sobre Mudança Climática da Organização das Nações Unidas, realizada em Baliem, em 2007, deveria ser revista no âmbito regional, segundo Mwandingi. A Aliança “trabalha para garantir que as políticas sobre mudança climática, as decisões e as iniciativas no âmbito global, regional e nacional tenham um perfil de gênero”, segundo se pode ler em seu site na internet.
 Envolverde/IPS